terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Parindo contra a correnteza

Durante o fim de semana, conversamos bastante sobre a nossa escolha do parto. Assistimos vários vídeos e ficou a simples pergunta: por que precisa ser tão difícil fazer o mais fácil? Por que o que é natural passou a ser marginalizado e uma cirurgia agora é considerada normal?

Daí que tivemos uma consulta com o GO ontem. No final dos exames que deram tudo perfeitamente bem, um diálogo:

- Então, a gente tinha comentado que participa de um grupo orientado por uma doula e estamos cogitando contratá-la para acompanhar o nosso parto. Gostaria só de saber se você vê algum problema, se já trabalhou dessa forma. (Ia falar que ela acompanha uma consulta, mas a linguagem corporal dele não me deixou)

- É, mas ela não faz parte do corpo clínico do hospital, não vai poder entrar lá.

- Mas sendo por convênio, a gente não tem mais liberdade para acompanhantes e visitas no quarto?

- No quarto sim, mas no centro obstétrico, não.

- Mas só se vai para o centro cirúrgico no expulsivo, não é?!

- Mais ou menos, quando está com 5, 6 de dilatação a gente já encaminha para lá. Mas ela não vai entrar lá e sinceramente, não vejo como vai ajudar. Ela estando lá ou não, vai ser a mesma coisa. Aqui em Campo Mourão, não temos estrutura para parto humanizado.

Gente, faz as contas comigo: mandam a mulher com 5 de dilatação para o centro cirúrgico. Considerando uma média de 1cm de dilatação por hora, ainda se vão mais seis horas só lá dentro. E mais: seis horas é o prazo máximo que costumam esperar em hospital para empurrar cesárea goela abaixo. E por “não temos estrutura para parto humanizado” você pode entender “não temos estrutura, muito menos boa vontade”.

* papel da doula durante o parto: funciona como uma interface entre a equipe de atendimento e o casal. Ela explica os complicados termos médicos e os procedimentos hospitalares e atenua a eventual frieza da equipe de atendimento num dos momentos mais vulneráveis de sua vida. Ela ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e parto, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento, etc.. (www.doulas.com.br)

Uma pausa para reflexão: a questão não é somente ter uma doula acompanhando ou não. É o que a doula representa. Representa mais bem estar para a mãe, um atendimento mais próximo, não simplesmente um procedimento científico. Esse pouco caso quando falamos dessa profissional fez cair toda a máscara do médico que na consulta anterior disse que “trabalharíamos para um parto normal”.

Encerramos a conversa e fomos embora, porque vi que não ia adiantar me desgastar. Saímos de lá [beges] e fomos conhecer as instalações do único hospital da cidade onde gostaria de ter o nosso filho. Conhecemos o apartamento. Bacana, grandinho, com um sofá legal para o acompanhante. Daí comecei a fazer as perguntas que ninguém sabia a resposta, porque “você está indo totalmente contra o perfil que costumamos atender aqui. A ala particular e convênios acaba fazendo só cesáreas por opção das mães que não querem sentir dor (não querem sentir dor ou são tão desamparadas que acabam escolhendo a outra opção por ser a única que atendem sem dar trabalho?). O parto normal é no SUS”. Daí que o moço ligou para a responsável pela enfermagem:

Ao contrário do que o médico nos falou cheio de pouco caso, a doula poderia nos acompanhar no apartamento e no centro obstétrico, mas não na sala de pré-parto. “Mas o que acontece na sala de pré-parto?”, perguntei. “Ah, é onde você fica esperando as contrações. Devido não termos estrutura física,você vai ficar lá com mais uma ou duas mulheres na mesma situação e lá só entra uma enfermeira para dar suporte.” Olha só que coisa mais linda! Bem na hora que a gente precisa de apoio, de caminhar, de uma chuveirada morna e de uma boa massagem, eles nos obrigam a ficar numa sala com três desconhecidas e deitada. Depois disso, vai para o centro obstétrico, daí a doula poderia entrar. Já aproveitei e perguntei do nitrato de prata em colírio que muitos hospitais deixaram de usar como rotina, já que é indicado apenas para casos de parto normal que a mãe tem gonorréia e mais alguma outra DST que não lembro. Esse colírio cega temporariamente a criança, que já nasce com enxergando pouquíssima coisa. O pouco que ele vê, é importantíssimo para criar o vínculo mãe + filho. Aqui ainda é rotina do hospital, com muito pouco caso, se o pediatra estiver avisado que não é para usar, eles não usam. Mas a princípio, todo mundo tem gonorréia.

Perguntei, também, qual é a rotina quando chega a mãe para dar a luz, se já vão colocando soro. Isso porque não quero usar ocitocina sintética (utilizada para intensificar e agilizar o trabalho de parto. Como diz o nome, é sintética. O organismo já a produz e tem o seu tempo para tudo funcionar), mas tem hospital que assim que a mãe chega já vai furando a veia para colocar soro, simplesmente. Daí se precisar adicionar outra coisa, “fica mais fácil”. Só que andar com um troço no braço e tendo que levar aquele suporte não é nada fácil e se movimentar é muito importante para ajudar a aliviar as contrações e fazer o trabalho de parto fluir.

O único ponto positivo: depois que o neném nasce fica só uns 30 minutos fazendo os procedimentos e vai direto para o nosso quarto. Fica lá para sempre. Isso porque tem lugares que não deixam o bebê dormir no quarto da mãe, ou demoram muito tempo para devolver a criança depois dos procedimentos do berçário.

Resultado disso tudo: conseguimos a indicação de outro médico que costuma ser mais maleável. Mas daí comecei a me questionar se não era melhor simplesmente ter essa criança em casa, num lugar onde não precise brigar com ninguém, no meu ninho, da forma que me sinto bem. Porque se o médico tiver toda a boa vontade do mundo, ainda terão as rotinas do hospital. Vou precisar fazer um plano de parto absolutamente restritivo e vai dar tanto trabalho para aprova-lo que sinceramente não sei se estou disposta a isso. Porque no final terei sempre a impressão de que estarão fazendo alguma coisa pelas minhas costas.

* plano de parto: é uma lista de itens relacionados ao parto, sobre os quais você pensou e refletiu. Isto inclui escolher onde você quer ter seu bebê, quem vai estar presente, quais são os procedimentos médicos que você aceita e quais você prefere evitar. (www.amigasdoparto.com.br/plano.html)

Se precisar de um atendimento cirúrgico, não vou pensar duas vezes antes de ir a esse hospital. A estrutura é boa e fui muitíssimo bem atendida, mas infelizmente não há estrutura e nem boa vontade para atender um parto de normal com respeito. Quem sabe daqui a alguns anos. Quero muito acreditar nisso.

Quem acha que vou mudar de médico levanta a mão! Acho que vou esperar apenas passar essa virada de ano que deixa tudo mais difícil, daí mudo e não vou falar de parto com ele, apenas fazer o pré-natal para saber que continua tudo ok.

Mas Bruna, porque você simplesmente não faz uma cesariana que é mais fácil?

Porque quero ter opção. Quero escolher o que acredito ser melhor, não o que querem me enfiar goela abaixo por ser mais prático para quem está me atendendo. SE tiver que fazer uma cesárea vai ser por necessidade REAL para a minha saúde ou para a saúde do meu filho, não por comodidade.

Essa novela ainda vai render...

4 comentários:

  1. Nossa Bruna, não sabia que era assim essa coisa de parto não. Eu nunca pensei em ter parto normal, já que minha mãe teve 3 cesárias, mas lendo as coisas aqui é uma coisa que quero pensar com carinho quando for a hora. E já até sei com quem conversar assim que descobrir que um baby está a caminho (nada abusada).
    Mas você está mais que certa, informação é tudo e a gente não pode deixar os outros ficarem empurrando pra gente goela a baixo o que é mais fácil e nao o mais benéfico. Espero que dê tudo certo!!!
    Bjo grande....

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  2. Eita, quanto desrespeito!
    Claro que a confiança fica abalada depois disso, e como permanecer com o profissional que vai ajudar a trazer seu filho ao mundo sem confiança? Muito complicado... E trocar a essa altura, dá uma insegurança tb.
    Vamos acompanhando e torcendo para que vc e o Pedro possam ser atendidos, no hospital ou em casa, da melhor forma possível, para que vc se sinta segura, cuidada, protegida e respeitada, porque isso é fundamental nesse momento.
    Um beijo

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  3. Kelly - minha mãe também só teve duas cesáreas e sempre foi aterrorizada pelas histórias de parto normal horripilante da minha avó. A nossa defesa enquanto mulheres inteligentes é muita informação. Estou longe de saber muita coisa, tudo isso é só o começo. Mas sempre que precisar de qualquer coisa, estarei aqui pelo menos para dar apoio, que tmbém é fundamental =)

    Melina - engraçado é que vc paga plano de saúde porque acha que vai ter um atendimento mais especil, digamos assim, e no final, parece qu seria mais fácil simplesmente resolver pelo SUS. Brasil... vai entender!

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  4. Em Guarapuava também não existe "estrutura" para fazer o parto humanizado. Quem vai humanizar o parto sou eu. Farei o parto normal sem doula, sem massagem, sem banho, sem ouvir o que todo mundo tem dito sobre "você é louca". Só não farei se houver qualquer risco pro Danilo. E seja o que Deus quiser.

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