segunda-feira, 26 de maio de 2014

Considerações sobre o nascimento do Pedro

Acabei de reler (pela nonagésima vez) o relato do nascimento do Pedro. Acabei de chorar mais alguns litros pelo parto que não tivemos, por essa dor terrível da cicatriz na alma, que não é “imperceptível e na marca do biquíni”, como enfatizam os médicos quando falam da cesárea, como se só a estética fosse importante.

O relato foi escrito logo. Ainda não tinha trabalhado muito as emoções e acontecimentos. Na verdade isso só foi feito com a gestação da Elis. Há uns meses, quando retomei a busca de informação sobre parto humanizado que tirei o resquício de dúvida que ainda existia: tivemos uma desnecesárea.

O principal motivo foi o sistema obstétrico brasileiro. Sim, porque essa história de “batimentos não tranquilizadores que PODEM não aguentar o TP” é lorota das brabas. Mas também sinto que sabia muito bem disso na hora que ouvi a desculpa esfarrapada. Acontece que estava fragilizada. Enfraqueci depois de lutar tanto em nove meses de pré natal, de só ouvir desculpas, terrorismo, de passar por essa dita cuja dor na perna que ajudou a terminar de atrapalhar.

Quando leio o relato, a primeira coisa que vem é que “não precisava ser assim”. E não precisava mesmo. Nossa história poderia ser diferente. Adoraria ter um relato muito feliz, emocionante e cheio de vida, ao invés de uma recuperação de anestesia e pontos cicatrizados.

Ao mesmo tempo, sinto que só me achava empoderada, mas não estava de fato. A gente acha lindo dizer que leu, se informou e está pronta. Mas o processo não é tão simples. Envolve uma descoberta muito profunda. Algumas tem a sorte de ainda não estarem com o empoderamento completo e parem assim mesmo. Outras fream o processo por mil motivos, mesmo sem querer. Por pressões internas ou externas. Infelizmente acho que fui do segundo grupo. Fui. Assim. No passado. Porque quero acreditar em mudança. Gestar a Elis está sendo uma redescoberta. Quero muito poder voltar depois de julho e contar nossa aventura emocionante, como foi a chegada da Alice, que tive o prazer de acompanhar (pelo whatzap, mas acompanhei).


Quero muito reescrever nossa história.