Desde outubro do ano passado, muito felizmente, passei por
esta experiência três vezes: primeiro a Priscila manda mensagem avisando que
está no hospital, em trabalho de parto. Não lembro bem ao certo o horário, acho
que foi pela manhã. Mandei boas vibrações e fiquei na torcida. Mas daí segue-se
um longo (qualquer 15 minutos é uma eternidade) período de silêncio. Daí você
fica naquela: liga? Manda mensagem? E se atrapalhar? Ela deve estar na
partolândia uma hora dessas, não vai ficar atendendo celular. E se ela sair da
partolândia pra atender e isso atrapalhar a concentração e emperrar o tp? Ligo
pro marido? Será que ele tá junto com ela? Será que não vai ser muito enxerida?
Mas às vezes ela pode se sentir bem com esse apoio. Mas também pode não se
sentir.
Ai gente, é uma aflição!!!!
É o momento mais lindo, mais natural, que tem que ser mais
respeitado. Mas dada a nossa realidade obstétrica, quando uma pessoa diz que
está em tp e objetiva o parto normal, a gente tem que torcer, rezar, orar,
mandingar tanto... Daí fica querendo informação não para mexericar, mas para
saber se está indo tudo bem.
E a realidade: MORRO de medo de ligar e receber a notícia
que acabou em cesárea. Algo do tipo “o bebê está bem, a fulana também, mas não
foi possível o parto. O médico falou que
[blá blá blá que na maioria das vezes é só desculpa para falta de boa vontade e
profissionalismo do GO]. Acho que não ligo mesmo por este motivo.
Mas então, voltemos à Priscila. Lá pelas 17h ela me manda
mensagem que a Angelina nasceu. Fiquei olhando o celular por alguns minutos
meio sem saber o que fazer. Tão feliz que perdi todos os reflexos. A cabeça deu
um bug. Minha amiga pariu! Minha colega de faculdade, madrinha de casamento,
madrinha do meu filho, que acompanhou toda a nossa saga [frustrada] por um
parto que acabou na faca, pariu! Quando saí dessa situação catatônica, liguei
parabenizando. Acho que já fazia uma hora ou mais do nascimento. Já falou com
uma mulher nessa hora? É muito engraçado. Ela fica louca! Doidona de ocitocina!
Meio que chora, ri, quer falar um monte de coisa, mas é tanta coisa que fica sem nexo. A vontade é
fazer uma entrevista digna de paginas amarelas da Veja, saber tim tim por tim
tim. Mas não é hora pra isso. Deixa o neném mamar, a mãe pentear o cabelo
(parturiente sempre fica meio descabelada, já percebeu?), depois vai ter
oportunidade para a entrevista. No caso da Priscila foi uns 15 dias depois,
quando conseguimos nos ver.
Daí há um mês teve a Isabela. A gente se conheceu num grupo
sobre pn aqui de Campo Mourão (preciso contar dele em outro post). A trajetória
foi longa e meio tortuosa. Daí sofria junto com cada detalhe. Numa
segunda-feira à noite, conversávamos pelo facebook, ela dizendo que já tinha
faxinado a casa e estava sentindo dorezinhas. Poderia ser TP. Na quarta recebo
a mensagem: nasceu com liberdade de movimento e posição para a mãe e sem
intervenções. Neste caso não sabia que era tp mesmo, então fui pega super de
surpresa pela mensagem. Mais uma vez, cara de besta para o celular. Dessa vez
chorei. De felicidade por muita gente. Porque o lindo parto da Isabela
representa uma mudança de paradigmas na nossa cidade. Chorei pelo parto dela e
pelo meu não parto (sim. Sempre a mesma ladainha, mas dói). O momento páginas
amarelas foi mas três semanas depois, quando conseguimos nos ver. Ler relato de
parto é bom. Mas ouvir com detalhes ainda emocionados é melhor ainda.
O mais recente é da dona Melina e este acompanhei com
mais detalhes. Na quinta-feira perto das 9h chega a mensagem que a bolsa
estourou, mas sem mais grandes acontecimentos. Geral se mobiliza. Sugestão de
movimentos, de mandingas, de chás, de tudo. Acho até que ela estava um pouco de
saco cheio das sugestões, mas a gente acaba querendo participar tão na boa
vontade que quando vê, já falou. O dia prossegue sem grandes novidades, mas
pequenos contatos da mãe avisando como está o processo. No outro dia (já me perdi
nas datas, acho que foi isso), o marido dela posta perto das 19h que estavam no
hospital, que o show ia começar. GE-LO.
Pode ser que dure 1 hora, pode ser que durem 11 horas. E
agora? Vou conversando com o [meu] marido sobre. Ele vibra a cada detalhe, também.
A vontade é falar para mais gente, afinal de contas a expectativa é muito maior
que em final de Copa do Mundo. Pra mim é. Juro! Mas para a maioria das pessoas,
não quer dizer muita coisa. Uma porque a amiga, neste caso, mora há 180km e
outra que arrisco ouvir “Por que não tira logo, de uma vez?!”. Melhor ficar
quieta.
Voltando ao parto da Alice... Vou dormir mais de 1h da
manhã. Bem mais tarde que o normal. Sempre de olho no facebook da família inteira
dela (detetive de FB!). Nada. Ai que desespero! Durmo. Acordo pro xixi da
madrugada e olho o celular. Nada. “Ai meu Deus, será que foram pra faca?”.
Madrugo às 6h em pleno sábado de aleluia. Os olhos nem abriram, mas já checaram
o facebook e o whatzapp. Descubro que nasceu pelo perfil de uma parente dela.
Tá. Nasceu e estão bem. Mas...? Sem detalhes! Ai que terror! Daí voltam todas
aquelas perguntas do início do post, inclusive se terminou em cirurgia. Mando
mensagem para as doulas, os parentes... Mas não são nem 7h da manhã. Quem está
online? Ninguém, né?! Vem a informação que perto de meia noite foram para a
sala de parto. Tá. Mas pariu?
Para quem não participa mais ativamente do processo de
torcida pelo pn, pode parecer meio mesquinha essa preocupação. Lógico que quero
saber se o bebê está bem, se a mãe está... mas a chance deles não estarem bem é
mínima. Já a chance de ter frustrado o pn, é imensa. Por isso não basta dizer
que foi para a sala de parto. Quero saber se pariu.
Enfim. Algumas horas depois e vem a notícia que sim.
Pariram! Cócoras e tudo mais. O dia ficou mais lindo. O sol brilhou mais, os
passarinhos cantaram. Sorriso besta no rosto o dia todo. Fé na humanidade, na
sociedade, no ser humano chamado médico que pode ajudar ou frustrar tudo, na
equipe, na família que apoiou, no meu parto daqui uns meses. Vontade de sair
contando, de postar mil coisas no facebook. Mas, mais uma vez para a maioria
tanto faz. Melhor contar só para quem se importa mais.
Os detalhes vieram só à noite, quando a mãe finalmente
contou mais um pouco. Mas ainda tem muita coisa para as páginas amarelas...
Então, minha amiga, faça um grande favor para as suas colegas
ativistas. Pelo menos para aquelas que acompanharam mais de perto sua gestação,
sua luta por parir com respeito: peça para a doula/marido/sogra ou quem estiver
disponível avisar quando nascer. Mas não vale uma mensagem genérica. Algo do
tipo “Nasceu. Foi pn”. Já diz muuuuuuuuita coisa! Assim azamigaíndia já vão
respirar 90% mais aliviadas e vão aguentar um pouco mais a espera pelos
detalhes lindos.
Porque no fim das contas, quando uma amiga está parindo, a gente pari junto!
Porque no fim das contas, quando uma amiga está parindo, a gente pari junto!