[ATUALIZAÇÃO]: antes de ler este post, esteja ciente das Considerações sobre o nascimento do Pedro. Saiba que foi uma desnecesárea e não deve servir de exemplo se você busca um atendimento humanizado. Fomos vítimas do sistema obstétrico brasileiro. Por favor, não entre para este grupo, também!!
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Esperei alguns dias para escrever esse relato. Uma que acostumar
com uma rotina bem louca exige dedicação, outra que ainda estou lidando com
alguns sentimentos que não sei bem explicar.
O texto ficou grande. Não teria como ser diferente.
Nosso parto começou no dia 26/03, quando o GO fez uma
pressão danada dizendo que esperaria só até 41 semanas e meia e não 42. A data
prevista era 25/03 e até então, nenhuma novidade além dos 2cm de dilatação por
algumas semanas.
Cheguei da consulta levemente desesperada. PRECISAVA entrar
em trabalho de parto. Isso era realmente muito importante para mim. Aí acionei
a nossa doula-consultora, Patrícia Merlin, o Google, os oráculos, todos os santos... torcendo
para algum indutor natural fazer efeito. O dia passou e fomos dormir. Lá pela
madrugada do dia 27/03, senti uma vontadinha de fazer xixi. Deu preguiça e
resolvi deixar “juntar” um pouco mais. Dali um tempo, sabe quando você sonha
que está fazendo xixi, daí sai um pouquinho e você dá aquela segurada?
Aconteceu bem isso. Saí correndo para o banheiro, porque dormir em colchão
mijado não é legal... Foram só alguns passos e na privada, constatei que tinha
escorrido um pouco pela perna, pingou de leve no chão e não era amarelo. Era
meio rosadinho. Veio o estalo: a bolsa! Nunca antes na história deste país uma
pessoa ficou tão feliz por ter semi-feito xixi na calça! Era um alívio de saber
que o nosso filho estava perto, de saber que respeitaríamos o tempo dele.
Chamei o marido [umas cinco vezes] de forma não desesperada,
ele veio todo perdido e falou o horário: 5h50. Muita coisa iria
acontecer,ainda. Lembrei dos encontros do Gesta Maringá: se a bolsa estourar e
o líquido estiver bom, tome muita água e vá tocar a vida. Voltei pra a cama e
fiz de conta que dormi.
Liguei para a Patrícia mais tarde para confirmar as
recomendações. Só ela e o Marcus ficaram sabendo. Não havia motivo para alertar
todo mundo. O dia seguiu normalmente. A sensação de “vazar” é engraçada. Saía
sempre um pouco quando ia levantar da cama...
13h30 veio a primeira contração. Leve, altamente suportável
e muitíssimo esperada. A partir daí era sempre uma por hora: 14h10, 15h10... Lá
pelas 18h30 fomos visitar uma amiga que tinha ganhado neném há uma semana. Foi
estratégico: vai que o Pedro se empolgava conhecendo o amiguinho?
Até esse horário já tinha tomado quatro litros de água...
Conhecemos o Enrico e fizemos a última foto barriguda.
Quando saímos, dava para sentir que as contrações estavam pouca coisa mais
freqüentes. Ainda passamos na minha sogra para jantar. A sopa me deu um sono
danado. Chegamos em casa e já deitei. Contrações aumentando. 30 em 30 minutos,
15 em 15... Lá pelas 22h, o marido estava ajudando a marcar: vinham de 5 em 5
minutos e duravam cerca de 50 segundos. Isso quando ficava deitada, porque era
levantar para ir ao banheiro e o negócio engrenava: uma para sair da cama,
outra quando o xixi saía, outra pra levantar, outra na pia. Entendi o esquema
do parto ativo. As coisas fluem com mais facilidade. Infelizmente minha perna
doía e possibilitava apenas o mínimo de movimento.
Com as contrações estabilizadas por mais de 40 minutos, não
tínhamos dúvida que estávamos no trabalho de parto ativo. Junto com isso veio
um misto de medo com angústia. O nosso parto seria normal, mas no hospital de
Campo Mourão, não teríamos a opção de analgesia (a alegação é a falta de
experiência nesse tipo de procedimento). Se quisesse isso, só em Maringá.
Comentei com o marido. Ele concordou que era mais tranqüilo termos o neném na
nossa cidade, mas me deixou à vontade para escolher. Optei por irmos a Maringá.
Saímos às 23h30. Gostaria de esperar mais tempo antes de ir ao hospital, mas
tínhamos 90km pela frente, contrações num nível de dor médio para alto e eu
estava meio angustiada.
Não sei bem explicar o que sentia e foi esse mesmo
sentimento que me acompanhou até a recuperação da anestesia. O mesmo que me dá
um baita nó na garganta até agora.
Quem visse de fora, era capaz de nem acreditar na situação.
Estávamos realmente tranqüilos. Nada parecido com o que mostram em novelas e
filmes. Quando vinha a contração, respirava muito fundo e ficava quieta. No
instante seguinte era como se nada tivesse acontecido, dava até uma
felicidade/satisfação... coisas de parto.
Chegamos ao hospital e enquanto o marido esperava na
recepção e cuidava da burocracia, fiz cardiotoco, para medir os batimentos do
neném, depois exame de toque. A alegação do médico foi que os batimentos dele
estavam meio fraquinhos (média de 115 por minuto) para agüentar o trabalho de
parto que ainda iria durar, pois até então estava só com os 2cm... Ainda
argumentei o que deu em favor do parto normal, mas não deu. Fomos para a
cesárea.
A partir daí foi tudo meio rápido e sinceramente acho que
fiquei meio entorpecida por não poder finalizar a gestação como tanto quis e
feliz, porque em pouco tempo conheceria o nosso filhote. Logo estava no centro
cirúrgico e os minutos à espera do anestesista, já deitada de barriga para cima
deixaram as contrações especialmente complicadas. Quando foi aplicar a raqui,
avisou que poderia começar a sentir um formigamento/quente no bumbum. Que nada!
Começou a formigar pela perna direita, a nojenta que me deixou de cama por
meses. Delícia não sentir dor... relaxei total!
Mais um tempinho e o Marcus entrou, a anestesia me deu enjôo
e o tiozinho pôs um remédio junto com o soro. E foi rápido! Dali a pouco o
médico já chamou o Marcus pra conhecer o Pedro. Uns segundos e ele veio para o “meu
lado do pano”. Gordinho, fortinho, o nosso tourinho! Queria mostrar para ele
que eu era a sua mãe, queria segura-lo no colo e não largar mais, mas tudo o
que deu para fazer foi um carinho de leve. Ele estava muito bem com seus
4.330kg, 50cm e apgar 9/10. Nascido no dia 28 de março de 2012, às 3h15. Estava
suficientemente feliz por isso.
O Marcus acompanhou os procedimentos no berçário enquanto
terminavam a minha parte e fui para o quarto. Depois de duas horas, recuperada
da anestesia, o Pedro chegou. A primeira providência foi virar de lado para
amamentar. Ele entendeu o recado e abocanhou o peito como se estivesse
esperando por isso durante nove meses. Muita felicidade!
Após tudo isso, já me fiz algumas perguntas:
- será que tive uma desnecesárea?
- será que se tivesse ficado em Campo Mourão, ao invés de
ter ido ter o neném com um plantonista, o procedimento seria outro?
- será que se não tivesse tido esse problema na coluna/perna
que me causou tanta dor por meses, poderia ter sido mais forte e não fazer uma
opção baseada em analgesia?
- será que tenho o “defeito” de produzir nenéns grandes? (o
médico enfatizou que parto normal acima de 4kg é arriscado. Se minha gravidez
foi super saudável do começo ao fim, como “emagrecer” o neném dentro da barriga?)
Quer saber? A resposta para todas é não sei. E,
sinceramente, agora não me importa. Meu filho pode não ter vindo como
planejamos, mas está saudável e precisa de mim. Agora isso é o mais importante.
E, é claro, não poderia terminar sem agradecer o apoio e
companheirismo fundamental do meu marido. Por mais que ele diga que não
precisa. Sempre esteve e está ao meu lado, me ajudando a buscar o equilíbrio e
a cada dia se mostra o melhor pai que o nosso filho poderia ter. Por essas e
por outras que a gente percebe que “escolheu” a pessoa certa.
FIM [ou um novo começo]