Daí que tivemos uma consulta com o GO ontem. No final dos
exames que deram tudo perfeitamente bem, um diálogo:
- Então, a gente tinha comentado que participa de um grupo orientado
por uma doula e estamos cogitando contratá-la para acompanhar o nosso parto.
Gostaria só de saber se você vê algum problema, se já trabalhou dessa forma. (Ia
falar que ela acompanha uma consulta, mas a linguagem corporal dele não me
deixou)
- É, mas ela não faz parte do corpo clínico do hospital, não
vai poder entrar lá.
- Mas sendo por convênio, a gente não tem mais liberdade para
acompanhantes e visitas no quarto?
- No quarto sim, mas no centro obstétrico, não.
- Mas só se vai para o centro cirúrgico no expulsivo, não é?!
- Mais ou menos, quando está com 5, 6 de dilatação a gente já
encaminha para lá. Mas ela não vai entrar lá e sinceramente, não vejo como vai
ajudar. Ela estando lá ou não, vai ser a mesma coisa. Aqui em Campo Mourão, não
temos estrutura para parto humanizado.
Gente, faz as contas comigo: mandam a mulher com 5 de dilatação
para o centro cirúrgico. Considerando uma média de 1cm de dilatação por hora,
ainda se vão mais seis horas só lá dentro. E mais: seis horas é o prazo máximo
que costumam esperar em hospital para empurrar cesárea goela abaixo. E por “não
temos estrutura para parto humanizado” você pode entender “não temos estrutura,
muito menos boa vontade”.
* papel da doula durante o parto: funciona como uma
interface entre a equipe de atendimento e o casal. Ela explica os complicados
termos médicos e os procedimentos hospitalares e atenua a eventual frieza da
equipe de atendimento num dos momentos mais vulneráveis de sua vida. Ela ajuda
a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e
parto, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que
podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento, etc.. (www.doulas.com.br)
Uma pausa para reflexão: a questão não é somente ter uma
doula acompanhando ou não. É o que a doula representa. Representa mais bem
estar para a mãe, um atendimento mais próximo, não simplesmente um procedimento
científico. Esse pouco caso quando falamos dessa profissional fez cair toda a
máscara do médico que na consulta anterior disse que “trabalharíamos para um
parto normal”.
Encerramos a conversa e fomos embora, porque vi que não ia adiantar
me desgastar. Saímos de lá [beges] e fomos conhecer as instalações do único hospital
da cidade onde gostaria de ter o nosso filho. Conhecemos o apartamento. Bacana,
grandinho, com um sofá legal para o acompanhante. Daí comecei a fazer as
perguntas que ninguém sabia a resposta, porque “você está indo totalmente
contra o perfil que costumamos atender aqui. A ala particular e convênios acaba
fazendo só cesáreas por opção das mães que não querem sentir dor (não querem
sentir dor ou são tão desamparadas que acabam escolhendo a outra opção por ser
a única que atendem sem dar trabalho?). O parto normal é no SUS”. Daí que o
moço ligou para a responsável pela enfermagem:
Ao contrário do que o médico nos falou cheio de pouco caso,
a doula poderia nos acompanhar no apartamento e no centro obstétrico, mas não
na sala de pré-parto. “Mas o que acontece na sala de pré-parto?”, perguntei. “Ah,
é onde você fica esperando as contrações. Devido não termos estrutura física,você
vai ficar lá com mais uma ou duas mulheres na mesma situação e lá só entra uma
enfermeira para dar suporte.” Olha só que coisa mais linda! Bem na hora que a
gente precisa de apoio, de caminhar, de uma chuveirada morna e de uma boa massagem,
eles nos obrigam a ficar numa sala com três desconhecidas e deitada. Depois
disso, vai para o centro obstétrico, daí a doula poderia entrar. Já aproveitei
e perguntei do nitrato de prata em colírio que muitos hospitais deixaram de
usar como rotina, já que é indicado apenas para casos de parto normal que a mãe
tem gonorréia e mais alguma outra DST que não lembro. Esse colírio cega temporariamente
a criança, que já nasce com enxergando pouquíssima coisa. O pouco que ele vê, é
importantíssimo para criar o vínculo mãe + filho. Aqui ainda é rotina do
hospital, com muito pouco caso, se o pediatra estiver avisado que não é para
usar, eles não usam. Mas a princípio, todo mundo tem gonorréia.
Perguntei, também, qual é a rotina quando chega a mãe para
dar a luz, se já vão colocando soro. Isso porque não quero usar ocitocina
sintética (utilizada para intensificar e agilizar o trabalho de parto. Como diz
o nome, é sintética. O organismo já a produz e tem o seu tempo para tudo
funcionar), mas tem hospital que assim que a mãe chega já vai furando a veia
para colocar soro, simplesmente. Daí se precisar adicionar outra coisa, “fica
mais fácil”. Só que andar com um troço no braço e tendo que levar aquele suporte
não é nada fácil e se movimentar é muito importante para ajudar a aliviar as
contrações e fazer o trabalho de parto fluir.
O único ponto positivo: depois que o neném nasce fica só uns
30 minutos fazendo os procedimentos e vai direto para o nosso quarto. Fica lá
para sempre. Isso porque tem lugares que não deixam o bebê dormir no quarto da mãe,
ou demoram muito tempo para devolver a criança depois dos procedimentos do
berçário.
Resultado disso tudo: conseguimos a indicação de outro
médico que costuma ser mais maleável. Mas daí comecei a me questionar se não
era melhor simplesmente ter essa criança em casa, num lugar onde não precise
brigar com ninguém, no meu ninho, da forma que me sinto bem. Porque se o médico
tiver toda a boa vontade do mundo, ainda terão as rotinas do hospital. Vou
precisar fazer um plano de parto absolutamente restritivo e vai dar tanto
trabalho para aprova-lo que sinceramente não sei se estou disposta a isso. Porque
no final terei sempre a impressão de que estarão fazendo alguma coisa pelas
minhas costas.
* plano de parto: é uma lista de itens relacionados ao
parto, sobre os quais você pensou e refletiu. Isto inclui escolher onde você
quer ter seu bebê, quem vai estar presente, quais são os procedimentos médicos
que você aceita e quais você prefere evitar. (www.amigasdoparto.com.br/plano.html)
Se precisar de um atendimento cirúrgico, não vou pensar duas
vezes antes de ir a esse hospital. A estrutura é boa e fui muitíssimo bem
atendida, mas infelizmente não há estrutura e nem boa vontade para atender um
parto de normal com respeito. Quem sabe daqui a alguns anos. Quero muito
acreditar nisso.
Quem acha que vou mudar de médico levanta a mão! Acho que
vou esperar apenas passar essa virada de ano que deixa tudo mais difícil, daí
mudo e não vou falar de parto com ele, apenas fazer o pré-natal para saber que
continua tudo ok.
Mas Bruna, porque você simplesmente não faz uma cesariana
que é mais fácil?
Porque quero ter opção. Quero escolher o que acredito ser
melhor, não o que querem me enfiar goela abaixo por ser mais prático para quem
está me atendendo. SE tiver que fazer uma cesárea vai ser por necessidade REAL
para a minha saúde ou para a saúde do meu filho, não por comodidade.
Essa novela ainda vai render...
Nossa Bruna, não sabia que era assim essa coisa de parto não. Eu nunca pensei em ter parto normal, já que minha mãe teve 3 cesárias, mas lendo as coisas aqui é uma coisa que quero pensar com carinho quando for a hora. E já até sei com quem conversar assim que descobrir que um baby está a caminho (nada abusada).
ResponderExcluirMas você está mais que certa, informação é tudo e a gente não pode deixar os outros ficarem empurrando pra gente goela a baixo o que é mais fácil e nao o mais benéfico. Espero que dê tudo certo!!!
Bjo grande....
Eita, quanto desrespeito!
ResponderExcluirClaro que a confiança fica abalada depois disso, e como permanecer com o profissional que vai ajudar a trazer seu filho ao mundo sem confiança? Muito complicado... E trocar a essa altura, dá uma insegurança tb.
Vamos acompanhando e torcendo para que vc e o Pedro possam ser atendidos, no hospital ou em casa, da melhor forma possível, para que vc se sinta segura, cuidada, protegida e respeitada, porque isso é fundamental nesse momento.
Um beijo
Kelly - minha mãe também só teve duas cesáreas e sempre foi aterrorizada pelas histórias de parto normal horripilante da minha avó. A nossa defesa enquanto mulheres inteligentes é muita informação. Estou longe de saber muita coisa, tudo isso é só o começo. Mas sempre que precisar de qualquer coisa, estarei aqui pelo menos para dar apoio, que tmbém é fundamental =)
ResponderExcluirMelina - engraçado é que vc paga plano de saúde porque acha que vai ter um atendimento mais especil, digamos assim, e no final, parece qu seria mais fácil simplesmente resolver pelo SUS. Brasil... vai entender!
Em Guarapuava também não existe "estrutura" para fazer o parto humanizado. Quem vai humanizar o parto sou eu. Farei o parto normal sem doula, sem massagem, sem banho, sem ouvir o que todo mundo tem dito sobre "você é louca". Só não farei se houver qualquer risco pro Danilo. E seja o que Deus quiser.
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